O Mestre dos Desejos, uma série de filmes horríveis de lindos
O cinema de terror-fuleragem da virada do milênio atinge sua máxima potência na série de filmes O Mestre dos Desejos.
Wishmaster ou, em português, O Mestre Dos Desejos, é uma quadrilogia de filmes de terror lançada entre o meio dos anos 1990 e a primeira metade da década de 2000. Concebida sob a benção de Wes Craven, que, na época, estava em alta devido a seu ressurgimento com a franquia Pânico, a série se destaca por ser uma grande merda, mas, é claro, uma merda muito divertida.
A história aqui gira sempre em torno de uma raça de cornos demoníacos chamada Djinn, que aparentemente vive aprisionada em outra dimensão desde que teve uma guerra fuderosa contra os arcanjos há muito, muito tempo. A cada filme, uma nova protagonista mais imebcil que a anterior dá um jeito de liberar um djinn no mundo da gente e aí precisa lidar com as consequências: para trazer todos os seus comparsas à Terra e causar o caos generalizado, o djinn necessita que a tabacuda da vez peça a ele três desejos. Enquanto isso não rola, o demônio vai alterando como pode, realizando as vontades de vários coadjuvantes, que sempre acabam se lascando devido à imperícia de sua comunicação.
Nos dois primeiros filmes da série o djinn é vivido por um brother venezuelano chamado Andrew Divoff, que nem a quinze quilômetros de distância conseguiria se passar por um cidadão de bem. A interpretação dele é massa: tá sempre olhando de baixo pra cima, sorrindo e fazendo uma voz besourenta. Além disso, vale salientar que os djinns têm duas formas: a origi, que é feia pra caralho e parece um personagem de algum live action filipino de Dragon Ball GT, e uma outra aparência humana roubada de algum pobre coitado. Esta última é pra ele se misturar entre os populares e praticar atrocidades sem que ninguém desconfie.
Divoff, que ficou famoso pelo papel, até hoje figura convenções de filmes de terror pelos Estados Unidos afora e tira fotos com fãs gordos comedores de cheeseburger, porém, saiu da série na virada do segundo pro terceiro longa. A ausência dele certamente é sentida porque nenhum dos dois caboclos que o substituiu conseguiu criar um djinn tão filhodaputamente engraçado quanto o dele.
Aqui vale destacar que o primeiro filme da quadrilogia, lançado ainda em 1997, foi dirigido por Robert Kurtzman, um dos três sócios da empresa de efeitos especiais KNB, famosíssima no universo do terror e da ficção científica pelos efeitos práticos de alto nível. Logo, como já era de se esperar, Wishmaster 1 tem deliciosos gores, melecas, sanguinolências e mosntruosidades. Visualmente, o filme conseguiu sobreviver ao tempo e à evolução da tecnologia sendo impressionante até hoje. Na real, dá pra dizer que no aspecto visual, os quatro longas são cremosos.
A primeira sequência, porém, O Mestre dos Desejos - O Mal Nunca Morre, lançada em 1999, com direção de Jack Sholder (nunca ouvi falar), é, além de tudo, um filme muito bom. Quer dizer, é ruim, é péssimo, mas, de alguma forma, excelente. Há um grande charme nesse capítulo por trazer toda uma sequência de cenas ambientadas na prisão.
Filme de prisão é bom demais porque todos (prisão masculina, que fique claro) têm a mesma estrutura: o mocinho chega, conhece um guru que está lá há anos e sabe tudo, depois é apresentado a um outro prisioneiro frágil e sentimental, aí se estranha com um valentão no refeitório, aí briga de tapa com ele durante o banho de sol, aí vai pra solitária, blá, blá, blá. É sempre a mesma merda e é justamente por isso que Wishmaster 2 é curioso: o preso aqui é um demônio secular se coçando pra matar todo mundo das formas mais absurdas. O destaque da quadrilogia inteira, inclusive, rola quando um detento coadjuvante diz ao djinn que deseja que seu advogado “se foda”.
Virou o milênio…
Embora filmados com apenas um fim de semana de descanso entre eles, Wishmaster 3, ou, em português, O Mestre Dos Desejos - Além da Porta do Inferno, de 2001, e Wishmaster 4, por aqui lançando apenas como O Mestre dos Desejos 4, de 2002, são bem distintos entre si. Enquanto o terceiro capítulo é um college movie meio que na rebarba do sucesso de Pânico, de 1996, e Prova Final, de 1998, o encerramento da série é um tipo de drama na pegada Doce Novembro. Por acaso, tem um ser ancestral matando todo mundo, mas até aí tá de boas, isso acontece nas melhores famílias. Da dupla, só presta o último e, por isso, vou direto pra ele:
É uma merda das boas: o djinn FODE, FAZ SEXO, TRANSA, LEITA, COPULA com a galega da vez! Além disso, o longa tem um ar de softporn cadeirante, vários seios empinados e a mais genial representação possível para o demônio, que no caso é um advogado. Wishmaster 4 fede a anos 2000. A aura y2k está em tudo: penteados, roupas, apetrechos (tem um motorola startac claramente reutilizado do filme anterior) e música. A sequência de abertura, inclusive, com um casal que é a feição cuspida e escarrada do padrão de beleza da virada do milênio, é linda demais.
Com péssimos atores (nem comentei antes porque puta merda), uma direção incompetente de um tal de Chris Angel, uma produção enxuta até demais e uma ambientação datada no pior sentido do termo, da pra atestar: Wishmaster 4 não é uma obra prima, mas está bem perto. O encerramento ideal pra franquia iniciada em 1996? Não sei, mas é um encerramento certamente merecido.
Quem quiser se aventurar, procure no YouTube. Tem tudo completo, dublado e de graça - o jeito certo de assistir.