Duas bolas de sorvete e uma vida inteira pela frente, por favor
Os últimos dias da Elos Vídeo e o luto pelas sensações e hábitos enterrados sob as areias da vida prática
Entre 2010 e 2014, período em que eu estava obstinado a assistir todos os mais obscuros filmes trash do universo, acabei parando de frequentar a Elos Vídeo, locadora clássica do meu bairro.
Naquela época, porém, eu ainda passava lá na frente todos os dias quando tava indo pegar o ônibus pra faculdade. Às vezes, até parava do lado de fora e dava uma olhada nos cartazes dos lançamentos antes de rumar para o centro, onde estudava jornalismo.
Fundada em 1991, mesmo ano em que eu nasci, a Elos sempre esteve ali naquele exato lugar. Durante toda minha vida, nunca havia tido um único momento em que aquela locadora não estivesse ali, compondo aquela paisagem urbana que inundava minha vista todo santo dia.
Por isso, quando, no início de 2015, chegou até mim a notícia de que o véio Seu Artêmio, dono da Elos, tinha transformado metade do espaço da locadora numa sorveteria e que os negócios não iam nada bem, eu levantei imediatamente de onde estava e fui ver com meus próprios olhos.
Era, como todos que viveram aquele período sabem, o início do fim das locadoras. Tenho certeza que Seu Artêmio não pensou “hum… eu gosto tanto de cinema, que acho que vou abrir uma sorveteria!”
Nos seus últimos dias, a Elos virou um tipo de quartinho de tralhas da sorveteria Pola Sorvetes Gourmet, nome que o véio Artêmio me explicou ser uma referência a alguma palavra que a filha dele falava quando criança ou qualquer merda assim:
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